terça-feira, julho 19, 2005

Sobre a actual vaga de criminalidade

A irreflectida onda de descolonizações provocada sobretudo pelos interesses dos contendores da Guerra Fria está na origem da profunda desestabilização que, de maneira tão trágica, tanto tem afectado os chamados países do terceiro mundo. Impuseram-se artificialmente Nações em espaços e a povos sem qualquer património identitário comum. Nem a melhor das boas vontades permite esconder o facto de que a genuína revolta individual contra um poder colonial arbitrário e paternalista nada tem que ver com os levantamentos nacionalistas que na Europa haviam ocorrido no século anterior. Com uma arrogância irresponsável, fruto da mais profunda ignorância e do mais intolerante preconceito ideológico, inventaram-se caricaturas de Estado, desprezando a verdadeira natureza da Nação como comunidade de destino colectivo, sedimentada e coesa. Um neo-monroenismo, ditado pela confrontação entre as potestades mundiais, votou à miséria, ao extermínio e à servidão um número incalculável de populações a quem, em nome dos mais elevados interesses da Humanidade, havia sido outorgada a Liberdade. Mas cedo essa liberdade abstracta se viu substituída pela falta de liberdades concretas e, de uma forma geral, o caos, o genocídio e a cleptocracia se instalaram de forma inequívoca. Dessa conflitualidade permanente e da subsequente débacle do Bloco Soviético respingam continuamente fluxos de pessoas em busca de uma vida melhor ou, pelo menos, da esperança de sobreviver. A sua entrada incontrolada nos espaços tradicionalmente mais abertos e deficitários de mão-de-obra, como é o caso dos países da Comunidade Europeia, arrasta todo um conjunto de novos problemas que, directa ou indirectamente, afectam a nossa segurança global. Quase sempre o insucesso na inserção no tecido social dessas sociedades leva à marginalidade e, por vezes, quando as comunidades expatriadas são significativas, à auto-exclusão. Esta evolui, com facilidade, para a ghettização, com toda a conhecida panóplia de comportamentos e atitudes que fazem gala em buscar em sub-culturas marginais inspiração e energia.
Incapazes de acompanhar a evolução das ameaças que, em muitos casos, conflituam com entranhadas convicções ideológicas, os governantes, e as autoridades em geral, manifestam face aos problemas da segurança pública um comportamento quase autista, como recentemente comprovámos. Esta atitude confrangedora é motivadora de reacções de indignação que conduzem, muitas vezes, a legítimas alterações da Ordem e a uma potencial escalada da violência, nada características do nosso quotidiano.
A insegurança aparece nas grandes urbes cada vez mais associada a grupos marginais. Mas as doutrinas sociais que nos governam, herdeiras da teoria do Bom Selvagem de Rousseau, tendem a auto-culpabilizar a Sociedade pela situação de marginalidade desses cidadãos que, voluntariamente, se degradam e afastam das regras mínimas da convivência.
As autoridades tendem a avaliar o nível de segurança pela análise dos dados obtidos através da participação efectiva dos crimes. Mas, na realidade a percepção do nível de insegurança é muito mais importante para a definição da necessidades de segurança que a estatística do crime. Esta está ferida de credibilidade, já que, amiúde, por falta de confiança no sistema judicial, as pessoas já não se dão ao trabalho de apresentar queixa, introduzindo assim, como efeito perverso, uma distorção naqueles valores.
Por outro lado, as forças encarregadas da prevenção e repressão do crime encontram-se muitas vezes fragilizadas pela falta de orientação e apoio da própria tutela. A credibilidade das polícias é extremamente vulnerável à ausência de solidariedade das altas esferas políticas muitas vezes formadas por gente que não se consegue libertar da matriz ideológica dos anos 60, normalmente assente num substrato que oscila entre o marxismo pacifista e o socialismo mata-frades. É por demais evidente que o medo que as pessoas têm do crime quer ele corresponda ou não à realidade dos factos, provoca uma alteração substancial nas suas actividades e formas de vida, com trágicas consequências para a coesão identitária colectiva.

1 comentário:

Manuel disse...

Ora nem mais, sr. Engenheiro!